terça-feira, 10 de dezembro de 2013

10.12.13 - Clarice faria 93 anos

"Mas como adulto terei a coragem infantil de me perder?"

"Eu já havia conhecido anteriormente o sentimento de lugar. Quando era criança, inesperadamente tinha a consciência de estar deitada numa cama que se achava na cidade que se achava na Terra que se achava no Mundo. Assim como em criança, tive então a noção precisa de que estava inteiramente sozinha numa casa, e que a casa era alta e solta no ar, e que esta casa tinha barata invisíveis."

"A primeira ligação já se tinha involuntariamente partido, e eu me despregava da lei, mesmo intuindo que iria entrar no inferno da matéria viva - que espécie de inferno me aguardava? mas eu tinha que ir. Eu tinha que cair na danação de minha alma, a curiosidade me consumia."

"[...] Se eu gritasse ninguém poderia fazer mais nada por mim; enquanto, se eu nunca revelar a minha carência, ninguém se assustará comigo e me ajudarão sem saber; mas só enquanto eu não assustar ninguém por ter saído dos regulamentos. Mas se souberem, assustam-se, nós que guardamos o grito em segredo inviolável. Se eu der o grito de alarme de estar viva, em mudez e dureza me arrastarão pois arrastam os que saem para fora do mundo possível, o ser excepcional é arrastado, o ser gritante."

Do livro "A Paixão Segundo G.H"...




Linda demais!!




Fotos (com exceção da primeira): Cecília Garcia

segunda-feira, 18 de novembro de 2013


"Renda-se como eu me rendi
Mergulhe no que você não conhece,
como eu mergulhei

Não se preocupe em entender...

Viver ultrapassa qualquer entendimento"

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Arembepe - Bahia

                 Fazia um lindo dia, no segundo dia de viagem, quando partimos da praia das Dunas, ainda em Sergipe, rumo à Arembepe, já na Bahia. Antes, passamos em Estância, minha cidade natal, vimos alguns amigos, compramos um sonzinho na feira, pequeno, que funcionava com uma bateria de celular e seguimos viagem. Não dava para fazer uma viagem dessas sem música. E foi tudo tranqüilo até chegar ao nosso destino, uns 300 quilômetros depois. Apenas uns guardas nos pararam e, com a documentação toda em dia, seguimos em frente.

                Ao chegar em Arembepe, fomos direto à aldeia hippie. De carro, só até o meio do caminho. Deixamos Clarice perto de um bar, andamos alguns metros (não tenho noção de quantos, mas não era longe) e fomos nos infiltrando por entre casas, coqueiros e muito verde, espalhados pela areia. Nada de placas indicando ruas e nem contramãos. Nada de paralelepípedos ou asfalto. Nada de carros. Nada de correria. Nada de guardas de trânsito, nem semáforos. Nada de poluição. Nada de buzinas com seus donos estressados querendo chegar logo em casa, mesmo com tudo engarrafado. Ali, não. Lá, a paz reinava. O único barulho que ouvíamos, além das ondas do mar, era alguém tocando violão e cantando alguma coisa, ligados a uma aparelhagem de som. E foi esse som que nos guiou, que nos atraiu, que nos chamou e que nos levou até ele.






                Chegando lá, um sujeito sem camisa, com várias tatuagens pelo corpo, “dreads” no cabelo, cantava uma música, que não me lembro agora qual era. Casa simples, pequena, o suficiente para fazer seu trabalho e suprir suas necessidades. Além dele, mais umas duas ou três pessoas. Do lado de fora, pela janela, apesar da porta aberta, Thiago e eu ficamos observando sua diversão. Ao acabar de tocar, outro sujeito foi lá e pegou o violão, enquanto ele veio até nós, nos deixando à vontade, e começamos a conversar. Também não lembro mais exatamente o que conversamos, os detalhes da conversa, só lembro que era algo em torno da estupidez do mundo, da ganância, da correria, da vida mal aproveitada, etc, etc, etc. Um papo agradabilíssimo, o que eu procurava nessa viagem: Crescer... Nem para cima, nem para baixo. Muito menos, materialmente. Meu espírito, ali, respirava em paz, uma paz que há tanto eu não sentia, enquanto vivia na correria de São Paulo, a não ser, em raríssimos momentos. Lá, a correria era dentro de mim. A sensação de paz passeava por entre as entranhas do meu ser, corria apressada, com a intenção de me fazer sorrir.




                Voltamos no outro dia, um domingo, antes de seguir para o nosso próximo destino, Salvador, a uns 40Km de lá. Quando chegamos, ele estava terminando sua arte, seu trabalho minucioso e, enquanto conversávamos, fui tirando umas fotos de sua casa, com sua autorização, claro. Fiquei apaixonado pelo lugar, como a maioria das pessoas que vão lá deve ficar. Paz, tranquildade, natureza e o mar, há poucos metros dali... Naqueles instantes, como eu era feliz ao extremo... Paz, paz, paz. Mas a viagem só estava começando e ainda tinha outros paraísos para conhecer. Precisávamos seguir em frente, experimentar também os infernos, nada é tão simples, tão fácil e tão curto. Minha jornada, depois do banco, estava apenas começando. Não poderia simplesmente parar ali, e nem tinha como... Ainda tinha muita estrada para percorrer. Porém, nada melhor do que começar em um lugar desses. Muitas experiências trocadas, muitas ideias, muitas conversas interessantes, viagens que ele já fez e as dificuldades que passou, muitas risadas e sua alegria e paz de viver ali. Para finalizar, nunca esqueci do que ele falou naquele domingo, algo que eu trago dentro de mim, desde o primeiro dia em que tive consciência do que significa vida: “Só quero uma coisa nessa vida: viver cada segundo dela”. Antes de irmos embora, ainda vimos uma placa, onde estava escrito que Mick Jagger e Janis Joplin também estiveram lá, para experimentar um pouco dessa paz.




O vento não inventa,
apenas passeia
E quanto mais concreto,
mais ele escasseia

O vento voa livre
Desvia das pedras, balança as folhas, os cabelos...
e sussurra em nossos ouvidos:
Vai... olha a vida!!
Escutei, voei, dei vida
Dei até minha vida

O vento é invisível
E pode ser, apenas, sentido

Agora tudo faz sentido:
sem liberdade, a vida não faz sentido

O vento não inventa nada...
Apenas vai

E apesar de tantos inventos,
é no sentimento
que a vida passeia...

Tal qual o vento



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sábado, 14 de setembro de 2013

Eu e minha Clarice por aí...

Meu corpo flutua nos bancos de Clarice
Meu disco voador é branco e tem quatro rodas
A Terra é o meu céu
Os estados que passo, galáxias
As cidades, planetas

Explorando,
inspirando-me,
respirando um ar mais puro,
sem esperar mais nada de ninguém

Apenas crescer... E flutuar
Voar por entre o infinito

Esse universo se transforma em versos
E eu me transformo cada vez mais em mim

Mesmo se estiver na escuridão
(aprendi com ela mesma),
levo a vida no tato

De olhos fechados,
no faro,
meu farol é mágico

Leve demais, apesar desse meu ar pesado

Um “Big Bang” no fundo do peito...

E a vida encostando os seus doces
nos meus salgados lábios

Chovia meus olhos, uma tempestade...

Mas era aquele o gosto perfeito...

O gosto da vida na ponta da minha língua...




Um beijo molhado


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quinta-feira, 25 de julho de 2013

"Clarice, minha menina"

           Quando minha mãe estava grávida de mim, no início da década de 80, jamais poderia imaginar que quando eu me debatia dentro de sua barriga, às vezes com força, já era eu brigando pela minha liberdade. No dia 21 de agosto, lá estava eu começando do zero isso que chamamos de vida e que até hoje ninguém soube explicar de onde viemos, para onde vamos e para que estamos aqui. Não chorei... E logo me deram uns tapas, que é para mostrar como funcionam as coisas por aqui.


O parto
A porta
Aberta


A vida

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Quando eu falava em cair na estrada,
minha mãe, tadinha,
achava que isso era passageiro

O passageiro sou eu, mainha!

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             Aí é que entra minha menina, Clarice. Quando eu ainda estava no banco, juntei mais ou menos 160 frases que escrevi em meu twitter, fiz um livro de bolso e distribuí mil exemplares. Um dia, depois de dar um para uma cliente, ela olhou nos meus olhos e perguntou-me, depois de ler umas quatro frases: o que você está fazendo atrás dessa máquina?
            Uma semana antes, uma amiga tinha falado comigo pela internet sobre a gente fugir em uma Kombi, uma brincadeira ali de momento, só uma maneira de extravasar, protestar contra o tédio, sem seriedade nenhuma. Aí juntei esses dois acontecimentos mais o filme que eu tinha assistido há um ano atrás, Na Natureza Selvagem, um filme que mudou minha vida, que ajudou a construir mais um degrau desse espírito viajante, e um degrau dos mais altos. Ainda entrou nessa mistura o livro O Estrangeiro, de Albert Camusque também influenciou-me bastante... Além de tantos outros...

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             Fazia um dia lindo quando saí para comprar o jornal e procurar nos classificados uma Kombi, meu primeiro carro, lamento decepcionar os mais vaidosos. Vi uns cinco anúncios, olhei duas e fiquei com a segunda. Feitas as negociações no outro dia, meu pai, que estava me ajudando, saiu dirigindo a Kombi na frente e eu e Thiago Nuts atrás, que já ia tirando umas fotos dela, no carro de minha mãe. Já na segunda curva, quando meu pai entrou na avenida, ele dá sinal para a direita e encosta o carro. Parei na frente e esperei um pouco. Lembro do frio na barriga desse momento e uma vontade de rir enorme ao mesmo tempo. Caralho... Isso é para testar? Será? Que seja... Meu ponto forte é não desistir.

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            Muitos me perguntam por que Clarice e, sim, é por causa dela, Clarice Lispector. Fácil entender por que:

“Suponho que me entender não é uma questão de inteligência
e sim de sentir, de entrar em contato...

Ou toca ou não toca”









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quarta-feira, 17 de julho de 2013

Noite de lançamento/autógrafos


























                Amigos de infância, amigos mais recentes, amigos que eu não via há bastante tempo, famílias, professores que passaram pelo meu caminho e pessoas que conheci nessa noite... Muitíssimo obrigado a todos por tudo!!
               
                E, a Thiago Nuts, um abraço especial, que tirou as fotos e que foi meu parceiro em mais da metade da viagem que originou esse livro...


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