terça-feira, 29 de outubro de 2013

Arembepe - Bahia

                 Fazia um lindo dia, no segundo dia de viagem, quando partimos da praia das Dunas, ainda em Sergipe, rumo à Arembepe, já na Bahia. Antes, passamos em Estância, minha cidade natal, vimos alguns amigos, compramos um sonzinho na feira, pequeno, que funcionava com uma bateria de celular e seguimos viagem. Não dava para fazer uma viagem dessas sem música. E foi tudo tranqüilo até chegar ao nosso destino, uns 300 quilômetros depois. Apenas uns guardas nos pararam e, com a documentação toda em dia, seguimos em frente.

                Ao chegar em Arembepe, fomos direto à aldeia hippie. De carro, só até o meio do caminho. Deixamos Clarice perto de um bar, andamos alguns metros (não tenho noção de quantos, mas não era longe) e fomos nos infiltrando por entre casas, coqueiros e muito verde, espalhados pela areia. Nada de placas indicando ruas e nem contramãos. Nada de paralelepípedos ou asfalto. Nada de carros. Nada de correria. Nada de guardas de trânsito, nem semáforos. Nada de poluição. Nada de buzinas com seus donos estressados querendo chegar logo em casa, mesmo com tudo engarrafado. Ali, não. Lá, a paz reinava. O único barulho que ouvíamos, além das ondas do mar, era alguém tocando violão e cantando alguma coisa, ligados a uma aparelhagem de som. E foi esse som que nos guiou, que nos atraiu, que nos chamou e que nos levou até ele.






                Chegando lá, um sujeito sem camisa, com várias tatuagens pelo corpo, “dreads” no cabelo, cantava uma música, que não me lembro agora qual era. Casa simples, pequena, o suficiente para fazer seu trabalho e suprir suas necessidades. Além dele, mais umas duas ou três pessoas. Do lado de fora, pela janela, apesar da porta aberta, Thiago e eu ficamos observando sua diversão. Ao acabar de tocar, outro sujeito foi lá e pegou o violão, enquanto ele veio até nós, nos deixando à vontade, e começamos a conversar. Também não lembro mais exatamente o que conversamos, os detalhes da conversa, só lembro que era algo em torno da estupidez do mundo, da ganância, da correria, da vida mal aproveitada, etc, etc, etc. Um papo agradabilíssimo, o que eu procurava nessa viagem: Crescer... Nem para cima, nem para baixo. Muito menos, materialmente. Meu espírito, ali, respirava em paz, uma paz que há tanto eu não sentia, enquanto vivia na correria de São Paulo, a não ser, em raríssimos momentos. Lá, a correria era dentro de mim. A sensação de paz passeava por entre as entranhas do meu ser, corria apressada, com a intenção de me fazer sorrir.




                Voltamos no outro dia, um domingo, antes de seguir para o nosso próximo destino, Salvador, a uns 40Km de lá. Quando chegamos, ele estava terminando sua arte, seu trabalho minucioso e, enquanto conversávamos, fui tirando umas fotos de sua casa, com sua autorização, claro. Fiquei apaixonado pelo lugar, como a maioria das pessoas que vão lá deve ficar. Paz, tranquildade, natureza e o mar, há poucos metros dali... Naqueles instantes, como eu era feliz ao extremo... Paz, paz, paz. Mas a viagem só estava começando e ainda tinha outros paraísos para conhecer. Precisávamos seguir em frente, experimentar também os infernos, nada é tão simples, tão fácil e tão curto. Minha jornada, depois do banco, estava apenas começando. Não poderia simplesmente parar ali, e nem tinha como... Ainda tinha muita estrada para percorrer. Porém, nada melhor do que começar em um lugar desses. Muitas experiências trocadas, muitas ideias, muitas conversas interessantes, viagens que ele já fez e as dificuldades que passou, muitas risadas e sua alegria e paz de viver ali. Para finalizar, nunca esqueci do que ele falou naquele domingo, algo que eu trago dentro de mim, desde o primeiro dia em que tive consciência do que significa vida: “Só quero uma coisa nessa vida: viver cada segundo dela”. Antes de irmos embora, ainda vimos uma placa, onde estava escrito que Mick Jagger e Janis Joplin também estiveram lá, para experimentar um pouco dessa paz.




O vento não inventa,
apenas passeia
E quanto mais concreto,
mais ele escasseia

O vento voa livre
Desvia das pedras, balança as folhas, os cabelos...
e sussurra em nossos ouvidos:
Vai... olha a vida!!
Escutei, voei, dei vida
Dei até minha vida

O vento é invisível
E pode ser, apenas, sentido

Agora tudo faz sentido:
sem liberdade, a vida não faz sentido

O vento não inventa nada...
Apenas vai

E apesar de tantos inventos,
é no sentimento
que a vida passeia...

Tal qual o vento



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